Bruxos
Bruxos Respiração ruidosa e leve, sorriso nos olhos. -Esperem, tenho que calçar uns sapatos. - O Vó, não te vamos tirar a fotografia aos pés. A pose, as gargalhadas, o pormenor, a cadeira, o sol a entrar pela janela, o momento e os chinelos retratados sem querer. Os chinelos/bruxos preferência de sempre. Bocados de trapo vindos das sobras da industria de lanifícios lá para a Serra, feitos utilidade. Abafavam o som de passos no soalho, puxadores de lustro quando da cera nova a invadir a casa de limpeza. Pendurados aos pares em tiras nas portas das atravancadas lojas do mercado. A Senhora Matilde, alta, seca, pernas palitos, saia de riscado. - Ai senhora D. Mimi, estava lá tanto povo, tanto povo… E ás escondidas lá tirava uma grande laranja do bolso para a Maria Fernanda que estava a amamentar a bebé. Havia dias e semanas de escassez la em casa. O pai (ainda não era Avô Santos) saía para consertar máquinas de escrever e só enviava o desejado vale postal quando rece